Modelos climáticos
Ver artigo principal: Modelo climático
Um modelo climático é uma representação matemática
de cinco componentes do sistema climático: atmosfera, hidrosfera (águas),
criosfera (ambientes gelados), superfície continental e biosfera (seres
vivos).[90] Estes modelos se baseiam em princípios físicos que incluem dinâmica
de fluidos, termodinâmica e transporte radiativo. Podem incluir componentes que
representam os padrões de ventos, temperatura do ar, densidade e comportamento
de nuvens, e outras propriedades atmosféricas; temperatura oceânica, salinidade
e circulação marinha; cobertura de gelo continental e oceânica; transferência
de calor e umidade do solo e vegetação para a atmosfera; processos químicos e
biológicos, entre outros. Porém, o comportamento natural destes elementos não
foi suficiente para explicar as mudanças climáticas recentes. Apenas quando os
modelos incluem influências humanas, como o aumento da concentração de gases
estufa ou a mudança no uso da terra, é que eles conseguem reproduzir
adequadamente o aquecimento recente. É significativo que nenhum dos modelos que
excluem os fatores humanos pôde reproduzir os registros objetivos com
fidelidade.[13]
Para provar sua confiabilidade os modelos que
estabelecem previsões futuras precisam reproduzir as observações reais
registradas historicamente. Os modelos mais usados são globais, notoriamente
imprecisos no que diz respeito a detalhamentos localizados, e certamente têm
limitações e margens de erro, mas eles reproduzem com grande aproximação as
mudanças do clima em escala global observadas no passado e atestadas por
registros de vários tipos. Se a checagem com as séries históricas se confirma,
pode-se usar o mesmo modelo de maneira reversa para prever o futuro com bom
grau de confiabilidade. Mas, pelas suas limitações, os modelos não podem chegar
ao nível do detalhe regional microscópico, e também porque não se pode saber
antecipadamente como a sociedade responderá no futuro próximo ao desafio de
continuar florescendo sem destruir o meio ambiente. Essa resposta, ainda
incerta, introduzirá novos fatores na equação, podendo mudar os cenários de
longo prazo radicalmente para melhor ou para pior. De qualquer modo, para
minimizar as incertezas, os modelos vêm sendo constantemente
aperfeiçoados.[91][92][93][94]
Apesar dos pesquisadores procurarem incluir tantos
processos quanto possível, simplificações do sistema climático real são inevitáveis,
uma vez que há limitações quanto à capacidade de processamento e
disponibilidade de dados. Os resultados podem variar também devido a diferentes
projeções de emissões de gases, bem como à sensibilidade climática do modelo.
Por exemplo, a margem de erro nas projeções do Quarto Relatório do IPCC de 2007
deve-se ao uso de diversos modelos com diferentes sensibilidades à concentração
de gases estufa,[95] ao uso de diferentes estimativas das emissões humanas
futuras de gases estufa,[96] e a outras emissões provindas de feedbacks
climáticos que não foram incluídas nos modelos constantes no relatório do IPCC,
como a liberação de metano quando derrete o permafrost.[97].
Os modelos não tomam o aquecimento como premissa,
mas calculam, segundo as leis da física conhecidas, como os gases estufa vão
interagir quanto ao transporte radiativo e outros processos físicos. Apesar de
haver divergências quanto à atribuição de causas do aquecimento ocorrido na
primeira metade do século XX, eles convergem no tocante ao aquecimento a partir
da década de 70 ter sido causado por emissões humanas de gases estufa.[98][99]
De fato, as principais projeções do IPCC, quando comparadas às observações
subsequentes, mostram-se precisas. Em alguns casos, como o aumento do nível do
mar e a retração da calota polar Ártica, estas projeções mostraram-se
conservadoras demais, com os eventos observados ocorrendo em ritmo bem mais
rápido que o previsto.[71][100]
As primeiras projeções e as observações subsequentes
Ver artigo principal: Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas
A expressão "aquecimento global" não era
conhecida até a década de 1970; ela só foi cunhada em 1975, num artigo do
geoquímico Wallace Broecker publicado na revista Science.[101] Nesta altura
ainda não havia sido despertada a atenção geral para o fenômeno que a expressão
descreve, e embora os cientistas há bastante tempo já soubessem que o homem
poderia teoricamente afetar as condições climáticas do planeta, e que certos
gases como o dióxido de carbono deviam estar envolvidos num efeito estufa, não
se podia discernir exatamente como as mudanças aconteceriam.[102] Joseph
Fourier, trabalhando na década de 1820, foi o primeiro a assinalar que os gases
da atmosfera poderiam reter calor do Sol. John Tyndall, em experimentos
realizados na década de 1850, tentou comprovar a hipótese de Fourier,
descobrindo exatamente o que este havia previsto, e identificando o vapor
d'água e o CO2 como alguns dos gases envolvidos no processo de retenção de
calor. Svante Arrhenius, com a ajuda de Arvid Högbom, produziram entre o fim do
século XIX e o início do século XX novos avanços no conhecimento, identificando
o CO2 como um elemento-chave na variação da temperatura da Terra, prevendo que
os oceanos absorveriam parte do gás atmosférico e associando a elevação em seus
níveis à atividade industrial, mas eles acreditaram que o homem não seria capaz
de provocar uma mudança significativa na temperatura através da emissão de
gases senão ao longo de séculos ou milênios de atividade.[103][104]
Com poucas exceções, os cálculos de Arrhenius foram
em geral considerados pouco plausíveis e exerceram uma impressão desprezível na
comunidade científica, e a questão estagnou.[103] Guy Stewart Callendar,
baseando-se nas pesquisas anteriores, deixou outra contribuição fundamental em
1938. Analisando registros históricos mundiais, foi o primeiro a demonstrar a
partir de evidências concretas que o que vinha sendo previsto teoricamente já
estava acontecendo na prática. Identificou e mediu a atual tendência de elevação
nas temperaturas, descobrindo que o mundo havia esquentado aproximadamente 0,3
°C nos 50 anos anteriores, e confirmou a associação dessa elevação com as
emissões de carbono derivadas das atividades humanas. Suas conclusões chamaram
alguma atenção mas foram recebidas com bastante ceticismo e seu estudo caiu na
obscuridade, em parte porque este campo de pesquisas recém começava a ser
desbravado e havia muita incerteza, mas também porque Callendar era apenas um
climatologista amador,[104][105][106][107] mas seus gráficos se aproximam
notavelmente das análises mais recentes.[105] Em meados do século XX, com um
acelerado progresso nas pesquisas em vários campos relacionados, muitos
especialistas já chegavam a resultados semelhantes.[104][106][103] Roger Revelle,
por exemplo, escreveu em 1965: "Em torno do ano 2000 a elevação nos níveis
atmosféricos de CO2 pode ser suficiente para produzir mudanças mensuráveis e
talvez marcantes no clima, que quase certamente causarão mudanças
significativas na temperatura e em outras propriedades da estratosfera",
previsão que, na data apontada, havia se confirmado.[108]
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