Abastecimento
Uma consequência esperada do somatório de todos os
efeitos do aquecimento global é o sério comprometimento da produção de
alimentos. Como foi assinalado, as mudanças nos mares devem significar uma
importante ameaça aos estoques de peixes, moluscos e crustáceos para consumo,
que constituem alimento básico ou importante para grande parte da população
mundial.[135][136][268][276] O aquecimento global também afeta a produção de
outros alimentos. A elevação das temperaturas, as mudanças nas chuvas, na
circulação de umidade atmosférica, no ritmo das estações, no ciclo do carbono,
no ciclo do nitrogênio e outros nutrientes, a redução da umidade do solo e dos
mananciais de água, o aumento nas taxas de evaporação superficial, a tendência
à desertificação subtropical, sem dúvida vão prejudicar a agricultura, a
pecuária e a silvicultura de grandes áreas produtoras em todo o
mundo.[136][13][188] Todas essas atividades, que vêm sendo desenvolvidas há
milênios, e que dependem essencialmente de outros seres vivos, dependem também
das condições estáveis e previsíveis do clima às quais todas as espécies foram
acostumadas há muito tempo. As mudanças atuais são rápidas e grandes demais
para a natureza absorvê-las, e deverão alterar todo o conhecido equilíbrio das
forças naturais, desorganizando e desestruturando grande parte dos sistemas
produtivos da humanidade construídos sobre esse mesmo equilíbrio, cuja razoável
estabilidade e previsibilidade possibilitou o desenvolvimento de sistemas de
alta produtividade em larga escala como os que existem hoje, dos quais depende
a humanidade para sua sobrevivência e conforto. Em consequência, prevê-se que
deverão crescer a pobreza, a incidência de doenças e a fome, bem como os
conflitos violentos derivados da competição entre grupos e nações por recursos
em declínio. Devem aumentar também o uso de pesticidas e adubos nas culturas
para compensar a queda na produtividade, o que contaminará ainda mais o
ambiente e elevará os custos de produção, gerando novos prejuízos num efeito de
cascata.[118][136][137][138][277]
Temperatura e umidade atmosférica mais altas e extremos
climáticos mais frequentes e intensos também afetam o metabolismo de animais e
vegetais, tornando-os mais propensos a epidemias e a distúrbios de crescimento
e reprodução, e dificultam a preservação da qualidade de grãos e outros
alimentos armazenados, fatores que juntos concorrem para reduzir ainda mais a
produtividade geral e aumentar as perdas.[278] Um estudo da UNEP publicado em
2016 alertou para um aspecto antes pouco conhecido, referindo que mais do que
prejudicar as colheitas, o aquecimento pode tornar algumas das principais
culturas agrícolas venenosas para o consumo, uma vez que plantas submetidas a
estresse prolongado, como o que ocorre sob temperaturas elevadas demais ou na
escassez de chuvas, ficam debilitadas e podem produzir substâncias químicas em
níveis tóxicos para o homem. São conhecidas cerca de 80 espécies de plantas que
sob circunstâncias adversas deixam de converter nitratos em aminoácidos e os
acumulam em seus tecidos em níveis tóxicos tanto para o homem como para animais
que as consomem, incluindo algumas das mais importantes culturas de grãos, como
a cevada, o milho, o sorgo, a soja e o trigo, que estão na base da alimentação
humana e de uma série de criações de animais. Além disso, se depois de um
período de seca as plantas são irrigadas, o seu rápido crescimento subsequente
faz com que algumas espécies acumulem uma outra substância tóxica, o ácido
prússico, sendo incluídas nesta categoria, por exemplo, o milho, a soja,
algumas gramíneas consumidas pelo gado de corte, o damasco, as peras e maçãs.
Outra ameaça produzida pelo aquecimento é que plantas em estresse impregnam-se
mais facilmente de toxinas produzidas por fungos e outros microrganismos
invasores, um problema que em estimativa de 1998 afetava cerca de 25% de todas
as culturas de cereais e que tende a piorar.[278] Hoje quase um bilhão de
pessoas sofre de fome crônica. Sistemas produtivos cada vez mais fragilizados
por crescentes ameaças e perdas em várias frentes, associados ao rápido aumento
populacional, multiplicam os riscos para a segurança alimentar das
nações.[279][280]
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