Análise de hipóteses alternativas
Uma explicação "alternativa" popular é que
o aquecimento recente poderia ser originado por maior atividade solar. À luz
das evidências, entretanto, esta hipótese não se confirma. Neste caso, as
temperaturas subiriam mais quando o sol está mais presente: durante o verão, e
durante o dia; não haveria aumento de retenção de energia na atmosfera nas
faixas de frequência dos gases estufa; e teria de haver aumento da atividade
solar que justificasse, quantitativamente, o aquecimento observado. Ao
contrário, não há tendência de aumento dessa atividade pelo menos nos últimos
60 anos. É certo que, na história geológica de nosso planeta, variações de
irradiância solar tiveram consequências climáticas importantes. Todavia, o
aquecimento das últimas décadas não pode ser atribuído a isso.[19][54][55][56]
Alguns estudos indicaram que uma parte do
aquecimento observado no início do século XX pode ser atribuível a causas
naturais, como a variabilidade climática natural e emissões vulcânicas de
gases, mas o consenso atual é de que a partir da segunda metade do século as
atividades humanas têm sido o fator largamente preponderante. Outras hipóteses
sugeriram como possíveis influências naturais no aquecimento os raios cósmicos
e alterações no campo magnético da Terra, afetando a formação das nuvens e de
chuva, mas o IPCC considera que uma influência neste sentido não foi comprovada
com segurança, e mesmo se existir, ela seria pequena demais para ter exercido
qualquer modificação significativa no sistema climático ao longo do século
XX.[13]
Distribuição geográfica
O aquecimento verificado não é globalmente uniforme,
o que era previsto em teoria já desde o trabalho seminal de Svante Arrhenius no
fim do século XIX.[57] Os modelos climáticos esperavam que as regiões polares
fossem as mais afetadas,[16][58] que os continentes aqueceriam mais do que os
oceanos, e que o Hemisfério Norte aqueceria mais que o Sul.[59][36][60] Os
registros confirmam a previsão e indicam que a região do Ártico aumentou suas
temperaturas duas vezes mais rápido do que a média mundial nos últimos 100
anos.[16] Algumas partes do Ártico já se aqueceram 4 °C desde a década de 1960,
enquanto a média mundial elevou-se menos de 1 °C em todo o século XX.[61] A
maioria das projeções teóricas espera que esse oceano continue a experimentar
os maiores índices de aquecimento.[36][62] A causa mais importante para essa
diferença regional é a diferença na superfície coberta por terra firme em
relação à coberta por água. O Hemisfério Norte tem muito mais terras firmes do
que o Sul. Em primeiro lugar, as terras aquecem mais rapidamente do que o mar,
e em segundo, há mais superfície coberta por neve e gelo perenes. Os gelos, com
sua brancura (albedo), têm grande capacidade de refletir a radiação recebida do
Sol de volta para o espaço. Com o rápido degelo que ocorre no Ártico o albedo
total se reduz e ao mesmo tempo mais terra fica exposta para aquecer. Esses
efeitos podem ser potencializados pela grande estabilidade da baixa troposfera
sobre o Ártico (a chamada inversão ártica), que tende a concentrar o calor
junto à superfície, embora o real papel da inversão seja disputado. Também
influem na variabilidade regional mudanças na cobertura de nuvens, na
circulação marítima e nos sistemas de ventos e correntes de
jato.[36][63][64][65][66]
Uma rápida elevação na temperatura também é observada
no sul do globo em trechos da Antártida, especialmente no centro-oeste e na
Península Antártica, embora nestas regiões o fenômeno seja muito menos
compreendido e muito mais polêmico pela menor disponibilidade de dados
confiáveis e por estudos que trazem conclusões conflitantes. A causa do menor
aquecimento observado no continente antártico é incerta, mas foi atribuída a um
aumento na potência dos ventos, originada por sua vez por alterações na camada
de ozônio.[67][68][68][69][70]
Mapa do globo mostrando a anomalia térmica mundial
da década 2000-2009 em comparação à média do período 1951-1980. As regiões mais
aquecidas estão no Hemisfério Norte, próximas ao Ártico e nas zonas temperadas.
No Hemisfério Sul as mudanças mais importantes são limitadas à Península
Antártica. A diferente concentração do calor pelas várias regiões é consistente
com os modelos teóricos.
Perspectiva de aquecimento futuro
Por várias questões práticas, os modelos climáticos
referenciados pelo IPCC normalmente limitam suas projeções até o ano de 2100.
São análises globais, e por isso não oferecem grande definição de detalhes.
Embora isso gere mais incerteza para previsão das manifestações regionais e
locais do fenômeno, as tendências globais já foram bem estabelecidas e têm se
provado confiáveis.[71] Os modelos usam para seus cálculos diferentes
possibilidades (cenários) de evolução futura das emissões de gases estufa pela
humanidade, de acordo com tendências de consumo, produção, crescimento
populacional, aproveitamento de recursos naturais, etc. Estes cenários são
todos igualmente plausíveis, mas não se pode ainda determinar qual deles se
materializará, uma vez que dependem de desdobramentos imprevisíveis, como a
evolução tecnológica e a adoção ou não de políticas de mitigação. Considerando
estes vários cenários, o IPCC prevê que até 2100 a temperatura média global
deve ficar mais provavelmente na faixa de 1,5 °C a 4 °C acima dos valores
pré-industriais, com alguns cenários indicando até 6 °C.[13] Embora níveis tão
elevados sejam considerados pouco prováveis, não está excluída a possibilidade
de mudanças abruptas e radicais imprevisíveis nos parâmetros do clima.[13][72]
Mantido o atual ritmo de emissões, é muito provável que os níveis superem pelo
menos os 2 ºC.[73][13] Esta elevação produzirá importantes consequências
negativas para o ambiente e a sociedade.[16][74]
Se projetarmos o futuro para além do limite de 2100,
e considerarmos a queima de todas as reservas conhecidas de combustíveis
fósseis, projeta-se aquecimento dos continentes de até 20 ºC, "eliminando
a produção de grãos em quase todas as regiões agrícolas do mundo", e
criando um planeta "praticamente inabitável", como relatou James
Hansen.[75] Tal perspectiva é hoje plausível, uma vez que não há qualquer
ímpeto popular ou político no sentido de se deixar intocadas as reservas ainda
inexploradas. Pelo contrário, as pesquisas para utilizar hidrocarbonetos antes
inviáveis continuam a criar novas fontes potenciais de CO2, como as areias
betuminosas do Canadá,[76] as jazidas de petróleo do Ártico[77] e da camada
pré-sal do Brasil,[78] e o fraturamento hidráulico.[79]
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