Evidências da origem humana do aquecimento
Em tese, vários fatores poderiam ser responsáveis
por um aquecimento do sistema climático terrestre. Modificações na composição
do ar por causas naturais já ocorreram antes na história da Terra, produzindo
mudanças climáticas e ecológicas às vezes em larga escala.[37] O diferencial
contemporâneo é que mudanças importantes estão sendo agora induzidas pelo
homem, cujas atividades geram gases estufa e os liberam na atmosfera,
aumentando a sua concentração e provocando finalmente um aumento na retenção
geral de calor.[38] As evidências observadas, sintetizadas principalmente no
Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, apontam que o aquecimento é uma realidade inequívoca e que sua
origem deriva principalmente do efeito estufa intensificado pela atividade
humana.[13] É "extremamente improvável" (menos de 5% de chance) que
essas mudanças sejam explicáveis sem qualquer interferência humana,
especialmente considerando que nos últimos 50 anos a tendência das causas
naturais sozinhas teria sido provavelmente resfriar o planeta.[39] A
responsabilização das atividades humanas por esta amplificação é apoiada por
várias evidências:
Variação da concentração atmosférica de CO2 nos
últimos 400 mil anos.
Curvas de concentração na atmosfera de vários gases
estufa no período 1976-2013: CO2, N2O, CH4, CFC-12, CFC-11, HCFC-22 e HFC-134a.
Apenas dois, dos menos importantes, mostram declínio recente. Todos os outros,
inclusive os mais potentes, cresceram constantemente.
A composição isotópica do gás carbônico atmosférico
(CO2) indica que tem principalmente origem fóssil, derivando da combustão do
petróleo, do gás natural e do carvão mineral, combustíveis fósseis de uso
generalizado na sociedade moderna. A quantidade de O2 também tem diminuído de
forma consistente com a liberação de CO2 por meio de combustão.[19][40] Nos
últimos 800 mil anos a concentração de CO2 atmosférico manteve-se relativamente
estável, variando de 170 a 300 ppm (partes por milhão). Contudo, desde a
Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, a concentração
atmosférica aumentou aproximadamente 35%,[19] ultrapassando as 400 ppm em
2013,[41] resultado da emissão de cerca de 375 bilhões de toneladas de gás
desde 1750 até 2011 somente nas áreas de combustíveis fósseis e produção de
cimento. (Um bilhão de toneladas equivale a 1 gigatonelada). De 100 a 260
bilhões de toneladas a mais foram emitidas no mesmo período por mudanças no uso
da terra, principalmente o desmatamento nas regiões tropicais. Menores
quantidades tiveram origem em outras fontes. Do total, cerca de 240 bilhões se
acumularam na atmosfera, e o restante foi absorvido pelos oceanos, pelos solos
e pela biomassa.[13] Nas últimas décadas, cerca de 80% desse aumento deriva da
queima de combustíveis fósseis, e cerca de 20% advém do desmatamento e de
mudanças nas práticas agrícolas.[19] Os níveis de emissão têm crescido quase
continuamente, chegando nos últimos anos à ordem de dezenas de gigatoneladas
por ano.[42] Em 2012, foram emitidas 31,6 gigatoneladas,[43] e somente nas
áreas de combustíveis fósseis e indústria foram 35,9 gigatoneladas em 2014 e
35,7 gigatoneladas em 2015.[44] Dados da FAO mostram que o desperdício de
alimentos é a terceira maior causa de emissões de carbono, respondendo pelo
lançamento anual de 3,3 bilhões de toneladas de CO2 e outros gases estufa na
atmosfera.[45]
O CO2 é o maior componente antrópico do efeito
estufa,[46] mas outros gases também estão elevando seus níveis atmosféricos. O
metano (CH4) se origina no uso de combustíveis fósseis, na agricultura, na
pecuária e na decomposição de matéria orgânica (lixo, esgotos), mais que
dobrando sua concentração atmosférica desde o período pré-industrial, tendo
passado de uma média de 722 [± 697-747] ppb (partes por bilhão) em 1750 para
1803 [± 1799-1807] ppb em 2011.[13] Recentemente o papel do metano vem sendo
reavaliado, e prevê-se que aumente muito sua contribuição para o efeito estufa
à medida que derrete o permafrost das regiões frias, onde é estocado congelado
em vastas quantidades. A elevação do óxido nitroso (N2O), devida principalmente
ao uso de fertilizantes, variou de 270 ppb pré-industrial para 319 ppb em
2005,[16] e os níveis de ozônio (O3) aumentaram de 25 para 34 ppb no mesmo
período.[47]
Menos calor está escapando para o espaço. Num
planeta em aquecimento, este fato é consistente apenas com um efeito estufa
intensificado. Além disso, este calor é retido nas faixas de frequência correspondentes
aos gases estufa, como o CO2 e CH4.[48]
Mais calor está retornando da atmosfera de volta à
superfície. Esta evidência é o outro lado da moeda da evidência anterior, pois
o calor que deixa de ser liberado ao espaço acaba retornando para a superfície.
Também nesse caso, observam-se os padrões no espectro de frequência que indicam
a ação dos gases estufa.[49]
O padrão de aquecimento nas diferentes profundidades
dos oceanos é consistente com o que se esperaria com o aumento do efeito estufa
atmosférico.[50]
A forma com que têm se aquecido as diferentes
camadas da atmosfera é consistente com o padrão provocado pela intensificação
do efeito estufa.[51]
As temperaturas noturnas têm aumentado mais do que
as diurnas. Os invernos têm apresentado maior aquecimento do que os
verões.[52][53]
No seu conjunto, as evidências acima são
consistentes apenas com a intensificação do efeito estufa causado pela
atividade humana.
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